CAPIVARI
Turismo Solidário ou Turismo de Vilarejo?
Constantemente deparamo-nos com citações em matérias de jornais, revistas, Facebook, pedidos de estudantes e em conversas com pessoas do segmento turístico, que publicam equivocadamente as ações que a Andarilho da Luz lançou e desenvolve em Capivari.
Diante desta realidade resolvi editar esta nota de ESCLARECIMENTO e de REGISTRO do que consideramos Turismo de Vilarejo e Turismo Solidário.
Turismo de Vilarejo foi um nome lançado pela Andarilho da Luz em 2004, justamente para distinguir das nossas ações de turismo solidário.
Turismo de Vilarejo tem a ver com o que podemos falar hoje mais apropriadamente, com o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária, com programas organizados de viagens que criamos e operamos, hospedando em Pousadas Domiciliares, também preparadas pela Andarilho da Luz. Trata-se de uma atividade de turismo de forte cunho vivencial e de troca de experiências com moradores da comunidade. Praticamos atividades de caminhadas e de visitas as cachoeiras (Ecoturismo), com olhar para o uso responsável e sustentável.
Turismo Solidário para a Andarilho da Luz, são as AÇÕES SOLIDÁRIAS E VOLUNTÁRIAS que lançamos e coordenamos, beneficiando diretamente a comunidade com projetos de implantações e melhorias das estruturas físicas, tais como a construção do Centro Comunitário de Capivari, a canalização e distribuição de água potável na comunidade e também com ações de capacitações e orientações especificas, como cursos diversos, visitas técnicas, ações sociais e mobilizações realizadas em conjunto com a Associação Comunitária e muitas outras ações que não configuram a venda de programas e serviços turísticos, ou seja, são atividades sem fins lucrativos para a Andarilho da Luz. Falamos que Turismo Solidário é DOAÇÃO de Tempo, Trabalho e Talento. É um programa de responsabilidade social da nossa empresa direcionado em Capivari.
Em 2003, logo após recebermos um Prêmio (SESC|UNA de Turismo com Responsabilidade Social em Minas Gerais), fomos convidados pelo IDENE em parceria com o SEBRAE|MG, para elaborarmos e aplicarmos um curso de Pousadas Domiciliares em aproximadamente vinte (20) localidades do VALE, fazendo também o repasse da metodologia e das nossas experiências em Capivari, num programa denominado por Eles de Turismo Solidário.
O programa Turismo Solidário não vingou.
Deixou expectativas nas comunidades por onde passou e também este mal entendido que tudo realizado em Capivari é Turismo Solidário, o que não é verdade.
Tanto o Turismo de Vilarejo quanto o Turismo Solidário geraram para a Andarilho da Luz reconhecimentos e prêmios.
Todo o processo de trabalho numa comunidade como Capivari é muito dinâmico e segue também as tônicas, os desafios e as demandas de cada tempo. Cada época, cada gestão associativista, determina o ritmo destas ações das quais aprendemos com o tempo a adaptar-nos constantemente e agir de acordo com o grau de interesse e de comprometimento das lideranças locais.
Assim entendemos este fluxo.
Uma breve Linha do Tempo, para o registro dos principais fatos:
• Conhecemos Capivari em 1998.
• Lançamos a primeira VIAGEM com grupo no carnaval de 1999.
• Em 2000, realizamos a 1ª Ação Social em Capivari com a participação de parceiros e clientes Voluntários e Solidários, com atendimentos diversos na comunidade. Estas ações estenderam-se nos anos seguintes. Hoje acontecem de forma mais pontuais, por demandas especificas.
• Em 2003, recebemos em 1º lugar em Minas Gerais o Prêmio SESC|UNA DE Turismo com Responsabilidade Social em Minas Gerais e Prêmio Voluntários das Gerais pela FIEMG.
• Em 2005, inauguração do Centro Comunitário de Capivari (dois anos e quatro meses de ações e campanhas solidárias).
• Em 2005, lançamos o Turismo de Vilarejo de Alecrim, no distrito de São Gonçalo do Rio Preto, nos moldes do trabalho que desenvolvemos em Capivari. Lançamos também a operação do programa Turismo de Vilarejo em São João da Chapada (Distrito de Diamantina) e do Turismo de Vilarejo de Cuiabá de Minas (Gouveia). Em todos ministramos o curso de pousadas domiciliares.
• Em 2008, iniciaram-se um ciclo de debates sobre Turismo de Base Comunitária e visitas técnicas do curso de turismo da UFMG. Neste mesmo ano recebemos também uma homenagem da Câmara Municipal de BH | Empresa Cidadã.
• Em 2011, o Ministério do Turismo reconheceu o Turismo de Vilarejo de Capivari como iniciativa nacional de Turismo de Base comunitária.
• Em 2013, recebemos o Prêmio Nacional Braztoa de Sustentabilidade | 1º lugar categoria agência de viagem.
• Em 2014, recebemos o Prêmio SEBRAE MINAS de práticas Sustentáveis| 1º lugar.
• Em 2015, levamos doações de milhares de roupas esportivas novas para a realização de Bazar da Associação comunitária de Capivari.
• Em 2016, operação de viagens com grupos privados e clientes avulsos.
Outras ações relevantes:
• Criação de roteiros aos atrativos naturais e culturais | Capivari e entorno.
• Promoção e intermediações para a realização de visitas técnicas por entidades do trade turístico e da área de ensino.
• Operação de diversos grupos de Ecoturistas.
• Participações em feiras nacionais e internacionais, promovendo o Turismo de Vilarejo de Capivari.
• Plantio de árvores e distribuição de mudas ao longo dos anos.
• Criação de programas regulares a partir de uma pessoa para visita a Capivari ao longo do ano.
• Promoção de cursos de Artesanato.
• Curso de Corte e Costura | SESI SENAI.
• Preparação de Condutores de Visitantes.
• Participação em Ações em parceria com o Parque Estadual do Pico do Itambé.
“Desenvolvimento Territorial pode ser compreendido como ativação do potencial de desenvolvimento socioeconômico local sem comprometer os recursos para as gerações futuras.” (SEBRAE, 2010)
Turismo de Base Comunitária | Turismo de Vilarejo Andarilho da Luz
(Apresentação de Luciana Masson).
Seguindo a tendência mundial de valorização do meio ambiente, a década de 80 foi marcada pelo início da utilização do turismo como ferramenta estratégica, para reduzir a pobreza no mundo e em diversas localidades do Brasil. Contexto no qual, se iniciaram os processos de desenvolvimento e implantação do Ecoturismo e do Turismo de Base Comunitária. Desde então há diversas iniciativas de norte a sul do Brasil, reconhecidas, inclusive, pelo Ministério do Turismo.
Integrando o universo das Práticas Sustentáveis do Turismo, está o Turismo de Base Comunitária, trabalhado sob a perspectiva do desenvolvimento local e territorial, tendo como princípio básico a melhoria da condição de vida das pessoas que residem em regiões onde, via de regra, existem muitos desafios quanto à prosperidade e ao pleno desenvolvimento. O Turismo de Base Comunitária se insere para além do conteúdo econômico e social, pois o desenvolvimento e a valorização da cultura local constituem-se como parâmetros, não no sentido de sua importância na configuração de um “produto” de mercado, mas com o objetivo de afirmação de identidades e pertencimento. Assim, a condição para o Turismo de Base Comunitária é o “encontro” entre identidades, no sentido de compartilhamento e aprendizagem mútua. Este tipo de organização e oferta do produto turístico possui elementos comuns, como a busca da construção de um modelo alternativo de desenvolvimento turístico, baseado na autogestão, no associativismo, na valorização da cultura local e, principalmente, no protagonismo das comunidades locais, visando à apropriação, por parte destas, dos benefícios advindos do desenvolvimento do setor. Entendemos que o Turismo de Base Comunitária talvez possa representar um excelente “laboratório” de construção de novas realidades e transformação social, desde que, trabalhado de forma ética, perene e humanizada.
O produto turístico de base comunitária se diferencia por incorporar o modo de viver e de representar o mundo da comunidade anfitriã. Desta forma, prevê na sua essência um intercâmbio cultural com a oferta dos produtos e serviços turísticos, em que há oportunidade para o visitante vivenciar uma cultura diferente da sua, e à comunidade local, de se beneficiar com as oportunidades econômicas geradas e também pelo intercâmbio cultural.
À luz do histórico, de pesquisas e diagnósticos no Vilarejo de Capivari, identificamos dentre as possibilidades do Turismo de Base Comunitária, a introdução do “Turismo de Vilarejo”, como oportunidade no desenvolvimento do Projeto de Estruturação Turísticas em outras localidades. Para a OMT (Organização Mundial do Turismo, 2003), o “Turismo de Vilarejo envolve a prática de hospedagem de estilo local em vilarejos tradicionais ou próximo a esses vilarejos, onde os turistas permaneçam, comam pratos típicos da região e observem ou participem de atividades do local. As instalações são construídas, administradas e de propriedade dos habitantes do vilarejo, que também oferecem refeições (culinária local) e outros serviços turísticos. Os habitantes do vilarejo recebem diretamente os benefícios do turismo, e os turistas aprendem sobre o estilo de vida local, suas tradições, artes, artesanato e atividades econômicas.” ·.·
Neste sentido, percebe-se que “no plano global, novas tendências tem marcado também a “ressignificação” do turismo, como, por exemplo, uma mudança sutil no perfil de turistas, conectados progressivamente com os temas da responsabilidade social e ambiental, o que passou a influenciar operadoras e agências internacionais, que, por sua vez, buscaram dar maior visibilidade a destinos turísticos menos convencionais, mas capazes de viabilizar novas experiências e descobertas para um“cidadão global”, em busca de oportunidades de vivências e aprendizagens, para além do “cardápio” de opções disponíveis. ”(RVING, 209. p. 109).
O perfil do turista desejado para iniciativas do Turismo de Base Comunitária, certamente não se ilustra pelo perfil convencional do turismo de massa, uma vez que no encontro ele é também protagonista, o que implica como condição para que isso aconteça, uma postura disponível e ativa em busca de conhecimento da realidade local e o seu compromisso com o que pode gerar impactos positivos nesta relação. Tornando este turismo, e consequentemente este turista, um “agente de transformação” para aquela determinada comunidade.
O CASE DA OPERADORA ANDARILHO DA LUZ | Vilarejo de Capivari
A operadora de turismo mineira, Andarilho da Luz, é uma referência ímpar na pratica do Turismo de Vilarejo. Desde 1999, realiza o programa de Turismo de Vilarejo em Capivari, Alto Jequitinhonha, entre as cidades do Serro e Diamantina. O Vilarejo de Capivari, localizado no entorno do Parque Estadual do Pico do Itambé, no município do Serro, possui cerca de 600 habitantes e 112 famílias e é conhecido pelas suas belezas naturais e pela peculiaridade da cultura local. O vilarejo do século XVIII, localizado na Serra do Espinhaço, um ecossistema decretado Reserva da Biosfera pela UNESCO. Além disso, Capivari se abriga em uma região de divisa de duas importantes bacias geográficas, a do Rio Doce e a do Rio Jequitinhonha. Um vilarejo que encanta os seus visitantes pela riqueza das belezas naturais presentes nas suas majestosas cachoeiras e trilhas que cortam os rústicos e preservados campos rupestres da Serra do Espinhaço. O clima bucólico é realçado pelas casas simples, com quintais floridos e sempre gramados. Em entrevista à Revista Sagarana, um dos diretores da operadora, Marcus Pavani, disse que “O modelo de gestão se difere do convencional por incentivar a autonomia da comunidade na formulação de planos estratégicos durante a execução do projeto. Os habitantes, que abrem as suas casas para os turistas, são os responsáveis pelo sucesso do empreendimento, pautado em valores essenciais como a simplicidade e o contato direto com as pessoas e a natureza. Os traços rústicos e originais da cultura popular, em Capivari, serviram de inspiração para implantar o Turismo de Vilarejo no local. Entre os benefícios da iniciativa estão o pagamento imediato dos proventos ao proprietário associado e a valorização do roteiro, destacado pela vivência mais autêntica oferecida aos viajantes.”Ao abrir as portas de casa para os visitantes, as famílias aumentam renda e qualidade de vida, além de proporcionar a quem chega, uma oportunidade de vivenciar seus costumes da prosa na beira do fogão a lenha ao contato direto com a natureza. Dentre os principais benefícios da prática do Turismo de Vilarejo em Capivari, destacam-se:
• Levar renda para a comunidade, gerando impacto positivo ambiental, social e econômico;
• Conhecer uma proposta pioneira turismo de base comunitária em Minas Gerais;
• Dormir em casa de moradores locais, trocando experiência e vivendo o dia a dia da comunidade;
• Comer as delícias mineiras preparadas com muito amor, carinho e originalidade;
• Tomar café da manhã com deliciosas quitandas, rosquinhas, biscoitos de goma, sem deixar de falar no tradicional queijo do Serro;
• Trocar aquela prosa com os anfitriões;
• Caminhar e conhecer maravilhosas cachoeiras no entorno de Capivari;
• Uma experiência para saber respeitar os costumes da comunidade, adaptar-se a simplicidade e interagir com as pessoas;
• Sentir a verdadeira sensação de liberdade, num lugar onde crianças brincam, correm e se divertem!
Ao longo de 18 anos, a Operadora Andarilho da Luz coleciona experiências valiosas no desenvolvimento e acompanhamento da Comunidade de Capivari e outras comunidades da região do Alto Jequitinhonha (Circuito dos Diamantes), como Alecrim, São João da Chapada e Cuiabá de Minas.
Sendo assim, a experiência da Operadora Andarilho da Luz poderá ser definida como fonte de inspiração e transferência de metodologia, para a implantação do Turismo de Vilarejo em outras localidades, compartilhando os pontos de paridade, bem como os desafios a serem enfrentados ao longo do processo.